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ARKIRVE- ARQUIVO HISTÓRICO DE RIO VERDE-MS. Por Paulo Sérgio Rodrigues

A marcha Coxim à Miranda os pantanais, as enfermidades, as mortes




Esta determinação, no ponto a que chegara o corpo de exército, trazia como consequência forçada obrigá-lo a tornar a descer para o rio Cochim e a contornar depois a cordilheira de Maracaju na sua base Ocidental que é todos os anos invadida pelas águas. A expedição estava condenada a atravessar a região das febres paludosas.


Chegamos a Cochim[10] a 20 de dezembro 1865, sob as ordens do coronel Galvão[11], recentemente investido do comando em chefe e que um tanto mais tarde foi promovido ao posto de general.

O acampamento de Cochim, sem valor algum estratégico, achava-se em uma elevação que lhe garantia salubridade, mas dentro em breve o crescimento das águas tendo-o cercado e isolado, a força viu-se ali submetida às mais cruéis privações, à própria fome.

Depois de longas hesitações forçoso foi arriscá-la por entre os pântanos pestilenciais do sopé das montanhas[12]. Foi a princípio presa das febres e uma das primeiras vítimas foi o próprio e mal-aventurado chefe[13] que perdeu a vida nas margens do rio Negro. 

Arrastou-se com extremas dificuldades até à povoação de Miranda[14].


Ali uma epidemia[15] climatérica de novo gênero, de que esse lugar se tornou foco, a paralisia reflexa, empenhou-se em dizimá-la ainda.

Quase dois anos inteiros haviam decorrido desde que nos partíramos do Rio de Janeiro[16]. 

Descrevêramos lentamente um imenso circuito de dois mil cento e doze quilômetros (trezentas e vinte léguas[17], conforme texto original), um terço da nossa gente perecera.

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Notas de Referências:
[10] Coxim, atualmente cidade e Município situada na região Norte de Mato Grosso do Sul.
[11] Brigadeiro José António da Fonseca Galvão. Pai do TC em Comissão Antonio Enéas Gustavo Galvão, que fora o Comandante do Batalhão Nº 17º de Voluntários da Pátria.
[12] A exploração do caminho entre Coxim e Miranda, por entre pantanais, brejos desde as margens do Taquari até os campos do Aquidauana, confluente do rio Miranda, numa extensão de cinquenta léguas, foi realizada pelo capitão Pereira Lago, 1º tenente Escragnolle Taunay, por ordem do então coronel José Antonio da Fonseca Galvão, comandante das Forças, conforme relatório geral da comissão de engenheiros junto às forças em operações ao sul da província de Mato Grosso, em 1866, publicado Em Matto-Grosso Invadido, 1929.
[13] Com a morte do Comandante José Antonio Galvão, em 13 de Junho de 1866, á margem do rio Negro, foi substituído temporariamente pelo Coronel Joaquim José de Carvalho.
[14] 60 léguas ao sul de Coxim. Na segunda quinzena de setembro de 1866 chegava nas ruínas da Vila de Miranda as Forças.
[15] NE - Neste primeiro momento duas enfermidades atacou as Forças em Operação. Meses depois foi a vez do Cholora Morbus a dizimar muitos outros combatentes. A epizootia dizimou praticamente quase toda a tropas de cavalos e muares. E o Beribéri atacou as tropas. O beribéri é uma doença nutricional causada pela falta de vitamina B1 (tiamina) no organismo, resultando em fraqueza muscular, alterações nervosas, cerebrais, cardíacas, problemas gastro-intestinais e dificuldades respiratórias. (http://www.abc.med.br/. Jan. 2017)
Essa Moléstia que causou verdadeiro terror no meio da Coluna tinha entre os soldados o nome popular de “perneira”, porque atacava em primeiro lugar os pés e as pernas. Era o Beribéri uma das suas formas. Desde os primeiros dias de sua invasão até as últimas vitimas em Nioac levou para cima de 400 homens, num total inferior a 3000. (nota nº 1 do Livro Em Matto-Grosso Invadido, pag. 75, edição de 1929
[16]Abril 1865 – Janeiro 1867. O número de vítimas neste trecho consumiu a metade do efetivo, conforme o autor: “Sem exageração, haviam morrido em menos de seis meses mais de 2.000 praças, sendo pequeno o desfalque por deserção, pois com a chegada do Batalhão de Voluntários goianos, no Coxim, se haviam reunido quase 4.000 homens”. Visconde de Taunay, Em Matto-Grosso Invadido. São Paulo 1929.
[17] NE -Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, de Caldas Aulete, de 1881, légua é medida itinerária cuja extensão varia segundo as épocas e países: 
6,6 km - Brasil, antigamente, chamada légua de sesmaria; o mesmo valor está em nota na edição francesa de 1891 - La lieue brésilienne a 6,600 mètres. Essa medida confere, com os registros deixados pelo Autor Visconde de Taunay no livro “Marcha das Forças”, no último Capítulo que registra as distâncias percorridas pelas Tropas Brasileiras. Editora Melhoramentos, São Paulo 1928.
Se tomarmos por base, 1 légua = a 6,6 Quilômetros. Então 320 x 6,6 = 2.112 km, aproximadamente.

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